Fundação de Cultura anuncia projeto de restauro da Igreja São Benedito

Investimento de 2,2 milhões de reais revitalizará templo histórico e entorno da Comunidade Quilombola Tia Eva em Campo Grande.

12/12/2025 às 13:00
Por: Redação

A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) tem agendada para o dia 16 de dezembro de 2025, às 17 horas, no Salão da Comunidade Quilombola Tia Eva, a apresentação oficial do projeto de restauro da histórica Igreja São Benedito e a requalificação de todo o seu entorno. Esta relevante iniciativa, que representa um investimento estimado em dois milhões, duzentos e treze mil reais, configura um passo fundamental na preservação do valioso patrimônio histórico e da identidade cultural da capital sul-mato-grossense, consolidando o compromisso com a memória local.

 

A execução da obra será de responsabilidade da empresa Marco Arquitetura, Engenharia, Construções e Comércio LTDA, que se destacou como vencedora da Concorrência Eletrônica nº 030/2025-DLO, cujo resultado foi homologado em 14 de outubro de 2025. O cronograma previsto para a conclusão dos trabalhos é de 540 dias, contados a partir da emissão da Ordem de Início dos Serviços, que ainda será formalmente definida pelos órgãos responsáveis pela gestão do projeto.

 

Relevância Histórica e Comunitária do Investimento

Para a comunidade, a intervenção vai muito além de uma reforma estrutural, reafirmando um profundo vínculo com a história e o legado deixado por sua fundadora. Ronaldo Jefferson da Silva, presidente da Associação dos Descendentes de Tia Eva, ressaltou a importância da obra ao afirmar que restaurar a igreja e o entorno significa preservar a convivência diária, o espaço de encontros e conversas, e manter viva a história comunitária, respeitando tanto os saberes dos mais velhos quanto os dos mais jovens.


“É o que Tia Eva deixou, é o legado de Tia Eva. Restaurar a igreja e o entorno significa preservar nossa convivência diária, nosso espaço de encontros e conversas, respeitando tanto os saberes dos mais velhos quanto os dos mais jovens. Manter esse lugar vivo é manter viva a história da nossa comunidade.”


A diretora de Memória e Patrimônio Cultural da FCMS, Melly Sena, reforçou o caráter histórico da ação, explicando que a Igreja São Benedito não é apenas uma edificação, mas um marco essencial na formação social e cultural de Campo Grande, protegendo a memória de uma liderança ancestral. Eduardo Mendes, diretor-presidente da Fundação, complementou a perspectiva, destacando que o governo de Mato Grosso do Sul compreende a proteção da memória de comunidades tradicionais como um fortalecimento da cidadania, visando um legado duradouro e o respeito à história local.


A intervenção transcende a recuperação de uma edificação, dedicando-se a proteger a memória de uma liderança ancestral que contribuiu decisivamente para a identidade negra do estado, reafirmando o compromisso com um patrimônio que pertence à cidade e ao país.


 

Origens e o Legado de Tia Eva

A Igreja São Benedito, cuja construção original em taipa remonta a 1912, pelas mãos de Eva Maria de Jesus, conhecida carinhosamente como Tia Eva, é um dos edifícios religiosos mais antigos de Campo Grande. O templo possui reconhecimento oficial por meio do tombamento como patrimônio municipal desde 1996 e estadual desde 1998, consolidando seu status como um símbolo inquestionável da presença e da resiliência da população negra na formação cultural sul-mato-grossense.

 

Tia Eva, uma mulher escravizada que conquistou sua alforria, chegou a Mato Grosso do Sul, vinda de Mineiros (GO), aos 49 anos de idade, tornando-se rapidamente uma figura central e reverenciada na comunidade. Sua influência estendeu-se por diferentes papéis, atuando como benzedeira, curandeira, parteira e doceira. A reconstrução da igreja em alvenaria, ocorrida em 1919, cumpriu uma promessa feita a São Benedito e, desde então, o local permanece como um eixo vital de memória, devoção e identidade para a comunidade quilombola.

 

O complexo religioso abrange um antigo cemitério, um cruzeiro de madeira, um campanário com sino e um busto em homenagem a Tia Eva, além de sediar o Centro de Difusão da Cultura Afro-Brasileira. Após ser administrada pela missão salesiana até a década de 1970, a gestão da igreja passou para a responsabilidade da Associação Beneficente dos Descendentes de Tia Eva. Esta entidade não apenas organiza a tradicional Festa de São Benedito, mas também atua como a voz representativa da comunidade junto ao poder público.

 

A apresentação do projeto de restauro, portanto, não é apenas um evento administrativo, mas um marco que sela o reconhecimento e a valorização de uma história fundamental para o estado. O investimento na revitalização da Igreja São Benedito e seu entorno representa um compromisso duradouro com as raízes culturais e com a continuidade do legado de Tia Eva, garantindo que as futuras gerações possam seguir reverenciando e preservando este ícone de fé e resistência em Campo Grande.

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