Quarta, 05 de Novembro de 2025

História em quadrinhos retrata o impacto do desastre em Mariana

As perdas e desafios após a tragédia são destaque em obra de João Marcos Mendonça

05/11/2025 às 13:26
Por: Redação
A tragédia de Mariana, ocorrida há uma década, devastou comunidades, destruiu cidades e causou danos ambientais permanentes. Governador Valadares, uma das cidades afetadas pela lama tóxica proveniente do rompimento da barragem, é o local de residência do quadrinista João Marcos Mendonça. O autor acaba de lançar "Doce Amargo", uma graphic novel de 186 páginas que retrata essa experiência. A obra, lançada pela editora Nemo, funciona como uma reportagem em formato de quadrinhos, detalhando o cotidiano dos habitantes da região. Valadares, a 328 quilômetros de Mariana e situada no Rio Doce, sofreu diretamente com a contaminação das águas que abasteciam a cidade. Dias após o desastre, a lama alcançou o rio, transformando a rotina local. Antes mesmo do incidente, Valadares já enfrentava escassez de água devido à seca prolongada. Caminhões-pipa eram necessários para abastecer parte da cidade. "Doce Amargo" inicia narrando a difícil situação hídrica local, destacando o impacto da destruição para os moradores. João e sua família são os principais relatos da história. Ele se inspirou em suas experiências, registradas em um diário durante o caos, para criar o roteiro. Segundo João, a cena de caminhões do Exército distribuindo água foi um momento marcante, semelhante a um "cenário de guerra". A graphic novel diferencia-se por oferecer uma perspectiva íntima e humana do desastre. Enquanto a mídia destacava números e dados, João pretendia mostrar "a dimensão humana da tragédia", destacando a difícil adaptação dos moradores. Influenciado por Ziraldo, o estilo ágil de João é voltado para jovens adultos, mas acessível para crianças. Ele optou por explicar gradualmente os impactos do desastre, permitindo compreensão por leitores de todas as idades. "Doce Amargo" ilustra como a degradação ambiental afeta pessoas. O álbum revela a morte dos peixes, o mau cheiro, a dificuldade de acesso à água e os problemas cotidianos, como tomar banho ou usar o banheiro. Finalizar o roteiro foi desafiador para João, que levou nove anos no processo. Ele se concentrou nos eventos do primeiro ano da crise, oferecendo um recorte dessa experiência complexa. O resultado é uma obra que mergulha o leitor na realidade vivida por muitos em Valadares, proporcionando um olhar profundo e documental sobre o que foi vivido na época.

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